sábado, 16 de abril de 2011

A tristeza da morte e as lições para a vida

Eu gostaria honestamente de saber por que nos espantamos muito mais com as tristezas e desgraças da vida do que com as maravilhas que vivenciamos por obra de Deus. Lembro-me de certa vez, quando eu ensinava na escola bíblica, que uma irmã chegou contando um grande milagre, o seu carro havia sido abalroado por outro, virando de ponta cabeça, ela e sua mãe, uma senhora bastante idosa, não haviam sofrido nenhum arranhão apesar da violência do impacto. Não contestei, nem contesto, que isso tenha sido um milagre, mas contei um milagre maior, naquele mesmo dia, naquele mesmo horário, eu passei com meu carro por algumas ruas extremamente movimentadas, cheguei até a igreja e fui dar aula sem que nada acontecesse. Perguntaram-me: onde está o milagre? Respondi: onde vocês não podem, ou não querem, ver, nos livramentos de Deus.
Essa semana um rapaz morreu, suicidou-se. Percebi que alguns jovens que o conheciam diziam, em um estranho sentimento de culpa, que há jovens morrendo ao nosso lado e nós não estamos fazendo nada. Volto a perguntar: por que nos espantamos apenas com o mal e não contamos as bênçãos? Um jovem morreu, mas, entre nós, tantos outros nem têm pensado em suicídio; um jovem morreu, mas, entre nós, muitos outros descobriram um sentido melhor para vida; um jovem morreu, mas, entre nós, a sua morte tem tanto a ensinar.
A morte por suicídio não depende de um evento, ela é fruto de toda uma vida de conflitos internos. Ninguém decide repentinamente tirar a própria vida, essa decisão é construída e consolidada a partir da forma como se lida com a realidade. Ou seja, as causas do suicídio estão na intimidade do indivíduo, na sua forma de compreender e de lidar com o mundo ao seu redor. As pessoas não se suicidam por motivos externos a elas, apenas usam esses motivos como um estopim para o que desejam fazer. Não há culpados para esse tipo de coisa. Cada vez que procuramos culpados para fatos como esse, nós estamos matando aqueles que de alguma maneira estiveram envolvidos com quem se foi.
Que mania temos de culpar as pessoas, de culpar as entidades, de fazer os outros sofrerem arrastando uma dor que não precisavam carregar. Que mania de apontar o dedo, de buscar explicações para o inexplicável. Precisamos aprender, no meio dessa situação, a contar as bênçãos. Quantos jovens estão vivos apenas por que nos conhecem? Onde estaríamos nós se não fizéssemos parte de um grupo que convive irmanado pela fé? Deixemos para a morte os sentimentos que lhe são próprios: a saudade, o luto, a dor... Mas, tragamos à memória as esperanças que a vida pode nos oferecer: os sonhos, as amizades, os motivos que nós temos para continuar a jornada...
Nosso amigo se foi, mas sua atitude nos faz refletir sobre a quantidade de jovens que continuam vivos por que nós convivemos com eles. Vamos contabilizar a vida pelo que ganhamos, não pelo que perdemos.


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