Eu gostaria honestamente de saber por
que nos espantamos muito mais com as tristezas e desgraças da vida do que com
as maravilhas que vivenciamos por obra de Deus. Lembro-me de certa vez, quando
eu ensinava na escola bíblica, que uma irmã chegou contando um grande milagre,
o seu carro havia sido abalroado por outro, virando de ponta cabeça, ela e sua
mãe, uma senhora bastante idosa, não haviam sofrido nenhum arranhão apesar da violência
do impacto. Não contestei, nem contesto, que isso tenha sido um milagre, mas
contei um milagre maior, naquele mesmo dia, naquele mesmo horário, eu passei
com meu carro por algumas ruas extremamente movimentadas, cheguei até a igreja
e fui dar aula sem que nada acontecesse. Perguntaram-me: onde está o milagre?
Respondi: onde vocês não podem, ou não querem, ver, nos livramentos de Deus.
Essa semana um rapaz morreu,
suicidou-se. Percebi que alguns jovens que o conheciam diziam, em um estranho
sentimento de culpa, que há jovens morrendo ao nosso lado e nós não estamos
fazendo nada. Volto a perguntar: por que nos espantamos apenas com o mal e não
contamos as bênçãos? Um jovem morreu, mas, entre nós, tantos outros nem têm
pensado em suicídio; um jovem morreu, mas, entre nós, muitos outros descobriram
um sentido melhor para vida; um jovem morreu, mas, entre nós, a sua morte tem
tanto a ensinar.
A morte por suicídio não depende de um
evento, ela é fruto de toda uma vida de conflitos internos. Ninguém decide repentinamente
tirar a própria vida, essa decisão é construída e consolidada a partir da forma
como se lida com a realidade. Ou seja, as causas do suicídio estão na
intimidade do indivíduo, na sua forma de compreender e de lidar com o mundo ao
seu redor. As pessoas não se suicidam por motivos externos a elas, apenas usam
esses motivos como um estopim para o que desejam fazer. Não há culpados para
esse tipo de coisa. Cada vez que procuramos culpados para fatos como esse, nós
estamos matando aqueles que de alguma maneira estiveram envolvidos com quem se
foi.
Que mania temos de culpar as pessoas,
de culpar as entidades, de fazer os outros sofrerem arrastando uma dor que não
precisavam carregar. Que mania de apontar o dedo, de buscar explicações para o
inexplicável. Precisamos aprender, no meio dessa situação, a contar as bênçãos.
Quantos jovens estão vivos apenas por que nos conhecem? Onde estaríamos nós se
não fizéssemos parte de um grupo que convive irmanado pela fé? Deixemos para a
morte os sentimentos que lhe são próprios: a saudade, o luto, a dor... Mas,
tragamos à memória as esperanças que a vida pode nos oferecer: os sonhos, as
amizades, os motivos que nós temos para continuar a jornada...
Nosso amigo se foi, mas sua atitude nos
faz refletir sobre a quantidade de jovens que continuam vivos por que nós
convivemos com eles. Vamos contabilizar a vida pelo que ganhamos, não pelo que
perdemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário