A
palavra pornô (do grego pornéia) se refere, no contexto ocidental, a toda forma
de sexo que esteja fora dos padrões religiosos ou sociais do casamento, por
isso ela sempre ganha um caráter negativo. Porém, esse caráter negativo não é
oriundo apenas de um preconceito sócio religioso imposto pelo cristianismo.
Longe disso, o caráter negativo do pornô, em suas diversas formas de expressão,
é fruto de uma reflexão que analisa as ações a partir de suas consequências.
Desta
forma, é perfeitamente possível se perceber que o pornô, por causa dos seus
excessos e deturpações, provoca prejuízos sociais em larga escala. Prejuízos
esses que passam pelas esferas econômica, psicológica e sociológica, para não
falar de outras tantas que não cito aqui a fim de não incorrer em aparentes
preconceitos.
Só
para citar rapidamente, o SUS (Sistema Único de Saúde), segundo informações do
ministro da saúde, José Gomes Temporão, tem realizado cerca de 220.000
curetagens anualmente em jovens que estão em uma faixa etária que vai dos 13
aos 29 anos. Estima-se que mais de um milhão de adolescentes em idade escolar
engravidem todos os anos no nosso país. Nos próximo 15 anos, segundo a OMS
(Organização Mundial de Saúde) 70 milhões de pessoas viverão com AIDS e cerca
de 3 milhões morrerão anualmente em decorrência de DSTs (Doenças Sexualmente
Transmissíveis).
Por
outro lado, a “cultura” pornô continua avançando a passos largos. E toda vez
que alguém abre a boca para falar contra ela, é simplesmente taxado de
preconceituoso. É engraçado como os problemas sociais são deixados de lado toda
vez que se aponta as suas causas reais. Isso tem muito a ver com um sistema
capitalista altamente selvagem desenvolvido para adestrar uma população sem
educação. É muito melhor para os governos que o pornô seja incentivado, e
vivido, em parcelas cada vez mais inconsequentes da população. Pois, dessa
forma os políticos conseguem, através de doenças e gravidezes que poderiam ser
evitadas, mais dinheiro para os seus estados e municípios, ou sabe Deus para
quem.
Pois
bem, como se vê, o problema do pornô no nosso tempo não é apenas um problema
moral, é um problema social que tem suas raízes em um sistema complexo que
alimenta os comportamentos de pessoas inconsequentes com a finalidade de tirar
sempre alguma forma de lucro.
Mas,
o pornô sempre esteve presente na história da humanidade! Isso é fato. Na
música, por exemplo, temos visto a grande exaltação da pornofonia que atinge
indiscriminadamente todas as classes sociais e se coloca como o grande sucesso
da atualidade. Isso não é nenhuma novidade, a pornofonia sempre existiu no
cancioneiro popular, não é coisa do nosso tempo. O que é próprio do nosso tempo
é o espaço social que a pornofonia, a pornografia, em fim, todas as formas em
que pornô se revela, ocupa na contemporaneidade.
O
pornô deixou de ser ato discreto, íntimo, pessoal e veio à tona, tornando-se
público, explícito, exaltado. O pornô ganhou um espaço social incompatível, que
passa a se tornar cada vez mais danoso para sociedade. Veja que não falo aqui
do pornô como ato sexual lícito, regrado, discreto, equilibrado, falo do pornô
que ultrapassa os limites da liberdade e se torna licenciosidade. Aceito até
que se dê uma nova visão, uma visão mais positiva ao pornô, que se desfaçam as
caricaturas que a religiosidade, não necessariamente o cristianismo, lhe impôs.
Mas, não posso deixar de compreender que o pornô passou a ocupar um espaço
muito maior do que o necessário e saudável para a sociedade.
Quando
olho para crianças de 11, 12 anos de idade engravidando depois de abandonar
precocemente as suas bonecas, considero pura hipocrisia de uma sociedade que
apoia a cultura pornô abrir a boca para falar contra a pedofilia. O ponto é que
as crianças de nossa nação perdem o referencial de família, não desenvolvem a
noção de valor do corpo, e se entregam antes do tempo para uma atividade que,
embora natural, exige amadurecimento não apenas do corpo, mas, principalmente
da psique. Mas, como essas crianças podem, ou poderiam, se defender? Se elas
são diuturnamente alimentadas com as ideias de uma sexualidade que é
perversamente apelidada de liberdade.
Falei,
logo acima, de alguns dos problemas econômicos gerados pela exaltação do pornô
na nossa sociedade – infelizmente, os problemas reais são muito maiores do que
mencionei –, mas, agora, quero, também, trazer à baila outros problemas que
atingem as crianças que simplesmente saltam da sua infância para uma triste
realidade de uma vida sexual adulta antes de se tornarem adultas, bem como as
pessoas que, embora adultas, se entregam irrefletidamente ao comportamento
pornô.
Refiro-me
aos problemas do conflito do ‘eu’, isto é, da autocompreensão humana, do
fundamento da personalidade. Afinal, o corpo é a representação máxima de nossa
identidade e ninguém entrega o seu corpo a outrem sem entregar a sua persona,
os seus sentimentos, as suas expectativas, os seus sonhos. O sexo não se resume
ao coito. Logo, ao se banalizar o sexo se banaliza a própria existência.
Em
suas múltiplas formas, a cultura pornô transforma os seres humanos em meros
objetos sexuais que são constantemente manipulados e manobrados no interior de
uma sociedade de massa totalmente hedonista, isto é, que tem sua concepção de
felicidade na busca do prazer e tranquilidade para o corpo. Os homens, nesse
contexto, só são homens se forem raparigueiros, as mulheres são cachorras, são
raparigas (no pior sentido da palavra) e as relações sexuais são apenas prazer
sem consequências. Não há compromisso, nem qualquer sinal de responsabilidade.
Assim, somos obrigados a pensar, também, sobre homens e mulheres que embora
sejam adultos são irresponsáveis com o seu próprio corpo, com o seu próprio
futuro e com o futuro das crianças que ocasionalmente são geradas pela sua
simples busca de prazer.
É
necessário que o pornô volte aos limites do seu espaço na intimidade das
pessoas e desocupe o centro da vida pública. As suas expressões como
pornografia e pornofonia, por exemplo, devem recuar para um espaço marginal
identificado apenas e tão somente com os que se interessam por atividades e práticas
dessa natureza. Não é admissível que a nossa população esteja compulsoriamente
sujeita aos excessos da comunicação pornô, tornando-se refém dos prazeres
individuais que negligenciam as responsabilidades sociais. É hora de uma
reflexão justa e moderada sobre o assunto, sem acusações sarcásticas e sem
defesas de interesses particulares ou de pequenos grupos que querem determinar
o comportamento social.