quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Democracia no ciberespaço

A palavra “democracia” tem tomado um significado cada vez mais profundo na chamada “era do conhecimento”. Cada pessoa, nesse mundo informatizado, – e, para não fugir a minha mania de neologismos, internetizado – tem a possibilidade de produzir e publicar os seus próprios conteúdos em uma espécie de universo paralelo que forma outra realidade em conjunto com o mundo comum. Já não é mais necessário ficar limitado ao recebimento das produções dos canais convencionais de comunicação.
A onda da interatividade está tomando conta do mundo, qualquer um com uma câmera digital na mão, um pouco de criatividade e acesso à Internet pode ser a nova sensação dos veículos de comunicação do país e até do mundo. Com pouquíssimas restrições, um mundo quase ilimitado se abre diante da nova geração, possibilitando a publicação de músicas, filmes, imagens, textos que, à sua própria forma, comunicam a mensagem livre de cada indivíduo.
Parece uma fábula que se torna verdade, o sociólogo Ely Chinoy, no início da década de 1960, já prenunciava que no final do século XX um adolescente trancado em seu quarto teria acesso a mais informação e diversão do que um Czar russo podia ter em toda a sua vida no final do século XIX. Nesse turbilhão de informações, onde a cada dia são postados cerca de 75.000 novos vídeos no YouTube e oito milhões de novos posts na blogosfera, uma pergunta precisa ser feita: estamos preparados para isso?
O grande problema é que a falta de limites e mesmo de legislações específicas para o universo cibernético tem conduzido as pessoas a um novo comportamento social ainda não definido, porém que precisa ser analisado. O acesso a esse gigantesco mundo de conteúdos requer a formação de uma consciência normativa que indique os caminhos que se deve tomar para a construção do que está por vir.
A democracia verdadeira não se forma apenas dando acesso ao espaço público, mas principalmente formando pessoas capazes de contribuir com ele. Não se trata de mera instrução técnica, mas de educação no sentido mais profundo e amplo da palavra. Os indivíduos desejam reconhecimento de suas habilidades, dos seus talentos, dos seus projetos, em fim, de sua persona; querem se apresentar ao mundo mostrando aquilo que lhes abriria espaço para uma efetiva participação na vida pública. Porém, esse projeto individual, ou mesmo individualista, de “mostrar-se ao mundo” escapa, em grande parte das vezes, a qualquer senso de participação social. O ser do outro tem sido frequentemente esquecido, ou pior, ignorado, no projeto de reconhecimento individual.
Ou seja, a despreocupação com a qualidade e com as consequências dos conteúdos postados na Internet é uma atitude de dessocialização – definindo dessocialização como o extremo oposto da socialização. A Internet, que deveria ser um espaço de construção social, tem se tornado, cada vez mais, local de individualização do sujeito, marcada por desrespeito e descompromisso social. Conteúdos elaborados com o intuito de ridicularizar pessoas, de transferir ódio, de manipular situações, sem falar das pornografias e pornofonias, são elementos de separação social cada vez mais presentes na rede. E como se não bastasse, esse tipo de conteúdo ocupa sempre os tops das mídias sociais.
Não quero aqui propor qualquer tipo de censura à Internet, mas, tão somente, deixar clara a necessidade de uma educação transformadora, que posicione os indivíduos em um caminho de verdadeira cidadania. Relembrar a necessidade de que a educação cumpra o seu papel de promover um bem social e não fabrique indivíduos sem compromisso com o mundo que os acolhe. Chega da política da troca, do interesse particular dominando o interesse público. É urgente que os espaços públicos, virtuais ou não, sejam utilizados de maneira construtiva e produtiva. Isso só pode acontecer por meio de uma educação que não forme indivíduos, mas cidadãos, sujeitos participantes da vida comunitária.

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