A
AIDS está de volta! Mas, como assim de volta? É que no final da década de 1990
o governo federal realizou uma grande campanha de conscientização e prevenção
contra essa terrível síndrome. Na ocasião, o número de casos em todo o Brasil
baixou significativamente. Infelizmente esse número voltou a crescer de maneira
preocupante, atingindo principalmente os jovens. Essa é uma notícia lastimável
e que, evidentemente, eu não gostaria de dar. Mas, o Ministério da Saúde está
seriamente preocupado, ao ponto de externar publicamente a situação.
Mas,
afinal, o que está havendo? Por que a AIDS, antes controlada, volta ao cenário
das preocupações nacionais? É muito simples, a AIDS voltou por causa da
mentira! Pior ainda, da mentira construída publicamente. Quantas campanhas
publicitárias foram divulgadas inventando que o “portador do HIV” tem uma vida
normal como a de outra pessoa qualquer? Antes que você, leitor politicamente
correto, apresente argumentos em favor desse tipo de comunicação pública, eu
quero lhe dizer que sei que é uma tentativa de suprimir os preconceitos, mas é
uma tentativa burra.
É
necessário voltar a informar que AIDS é uma doença e que ela mata, alertando
para o fato de que o doente de AIDS – que não é portador de nada, mas um doente
– tem uma vida altamente regrada, depende de medicamentos que cumprem as
funções que deveriam ser realizadas pelo seu organismo, que, embora possa
passar tempos sem apresentar sintomas, a sua capacidade imunológica está
comprometida para sempre, pois a AIDS não tem cura. A comunicação contra o
preconceito é outra história.
Mas,
por que um discurso tão duro? Em primeiro lugar, por que foi esse discurso que
salvou milhares de vidas nos anos 90 e começo dos anos 2000. Em segundo lugar,
por que a AIDS é uma doença que tem causas comportamentais. Para ter uma ideia,
em 1994, o percentual de pessoas sexualmente ativas no Brasil que declararam
ter mais de cinco parceiros sexuais por ano era 4%, em 2012 esse número subiu
para 12%. Desse mesmo grupo – das pessoas sexualmente ativas do Brasil – 97% declararam
ter conhecimento e acesso aos meios de prevenção da AIDS, porém a esmagadora
maioria não faz uso dos recursos que conhece para se prevenir.
O
problema, portanto, não é a falta de conhecimento sobre os meios de prevenção,
o problema está em uma cultura de defesa equivocada da sexualidade
inconsequente. Liberdade sem o seu contraponto, ou seja, sem responsabilidade.
Antes a problemática era centrada no equívoco de que a AIDS não poderia
acontecer comigo, agora a coisa é pior: ainda que a AIDS aconteça comigo, não
tem problema, terei uma vida normal. Isso é consequência da alienação
politicamente correta, da mentira suave, que se elabora em uma tentativa
aleijada de resolver o problema do preconceito sem avaliar o infortúnio da
doença e seus agraves sociais.
O
filósofo Luís Felipe Pondé adverte, em seu livro O Guia Politicamente Incorreto
da Filosofia, que esse discurso esquerdista, amplamente divulgado nas
universidades e em alguns ambientes de falsa intelectualidade, proclama-se
correto, mas é, na realidade, tosco, inconsequente e, em grande parte das
vezes, inútil. Eu concordo plenamente com ele. O problema do retorno da AIDS,
que tomo como exemplo para essa reflexão, é uma evidência prática de que os
discursos são expressões da consciência e das práticas de vida, com isso quero
dizer que o discurso expressa a consciência de quem o proclama e interfere na
vida prática de todos os que o assumem sem reflexão.
É
necessário dar um grito contra essa ideia ditatorial. Contra esse discurso
hipócrita e arrogante que se intitula “correto”, sem se abrir para a discussão
contraditória. Discurso incompleto em sua concepção, pobre e vazio em sua
conclusão. Além do problema do retorno da AIDS, o discurso politicamente
correto tem trazido sérios transtornos à educação, à aplicação da justiça, às
reflexões éticas e muitos outros temas que envolvem o nosso cotidiano. Quero
pegar carona em Pondé e colaborar com as denúncias contra essa falsa democracia
que se instala a partir de um discurso, realçando que democracia verdadeira se
instala a partir de uma construção dialógica, em que opiniões contraditórias
têm a mesma participação na reflexão.