terça-feira, 10 de maio de 2011

O pornô e a (des)humanização do sujeito

A palavra pornô (do grego pornéia) se refere, no contexto ocidental, a toda forma de sexo que esteja fora dos padrões religiosos ou sociais do casamento, por isso ela sempre ganha um caráter negativo. Porém, esse caráter negativo não é oriundo apenas de um preconceito sócio religioso imposto pelo cristianismo. Longe disso, o caráter negativo do pornô, em suas diversas formas de expressão, é fruto de uma reflexão que analisa as ações a partir de suas consequências.
Desta forma, é perfeitamente possível se perceber que o pornô, por causa dos seus excessos e deturpações, provoca prejuízos sociais em larga escala. Prejuízos esses que passam pelas esferas econômica, psicológica e sociológica, para não falar de outras tantas que não cito aqui a fim de não incorrer em aparentes preconceitos.
Só para citar rapidamente, o SUS (Sistema Único de Saúde), segundo informações do ministro da saúde, José Gomes Temporão, tem realizado cerca de 220.000 curetagens anualmente em jovens que estão em uma faixa etária que vai dos 13 aos 29 anos. Estima-se que mais de um milhão de adolescentes em idade escolar engravidem todos os anos no nosso país. Nos próximo 15 anos, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) 70 milhões de pessoas viverão com AIDS e cerca de 3 milhões morrerão anualmente em decorrência de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).
Por outro lado, a “cultura” pornô continua avançando a passos largos. E toda vez que alguém abre a boca para falar contra ela, é simplesmente taxado de preconceituoso. É engraçado como os problemas sociais são deixados de lado toda vez que se aponta as suas causas reais. Isso tem muito a ver com um sistema capitalista altamente selvagem desenvolvido para adestrar uma população sem educação. É muito melhor para os governos que o pornô seja incentivado, e vivido, em parcelas cada vez mais inconsequentes da população. Pois, dessa forma os políticos conseguem, através de doenças e gravidezes que poderiam ser evitadas, mais dinheiro para os seus estados e municípios, ou sabe Deus para quem.
Pois bem, como se vê, o problema do pornô no nosso tempo não é apenas um problema moral, é um problema social que tem suas raízes em um sistema complexo que alimenta os comportamentos de pessoas inconsequentes com a finalidade de tirar sempre alguma forma de lucro.
Mas, o pornô sempre esteve presente na história da humanidade! Isso é fato. Na música, por exemplo, temos visto a grande exaltação da pornofonia que atinge indiscriminadamente todas as classes sociais e se coloca como o grande sucesso da atualidade. Isso não é nenhuma novidade, a pornofonia sempre existiu no cancioneiro popular, não é coisa do nosso tempo. O que é próprio do nosso tempo é o espaço social que a pornofonia, a pornografia, em fim, todas as formas em que pornô se revela, ocupa na contemporaneidade.
O pornô deixou de ser ato discreto, íntimo, pessoal e veio à tona, tornando-se público, explícito, exaltado. O pornô ganhou um espaço social incompatível, que passa a se tornar cada vez mais danoso para sociedade. Veja que não falo aqui do pornô como ato sexual lícito, regrado, discreto, equilibrado, falo do pornô que ultrapassa os limites da liberdade e se torna licenciosidade. Aceito até que se dê uma nova visão, uma visão mais positiva ao pornô, que se desfaçam as caricaturas que a religiosidade, não necessariamente o cristianismo, lhe impôs. Mas, não posso deixar de compreender que o pornô passou a ocupar um espaço muito maior do que o necessário e saudável para a sociedade.
Quando olho para crianças de 11, 12 anos de idade engravidando depois de abandonar precocemente as suas bonecas, considero pura hipocrisia de uma sociedade que apoia a cultura pornô abrir a boca para falar contra a pedofilia. O ponto é que as crianças de nossa nação perdem o referencial de família, não desenvolvem a noção de valor do corpo, e se entregam antes do tempo para uma atividade que, embora natural, exige amadurecimento não apenas do corpo, mas, principalmente da psique. Mas, como essas crianças podem, ou poderiam, se defender? Se elas são diuturnamente alimentadas com as ideias de uma sexualidade que é perversamente apelidada de liberdade.
Falei, logo acima, de alguns dos problemas econômicos gerados pela exaltação do pornô na nossa sociedade – infelizmente, os problemas reais são muito maiores do que mencionei –, mas, agora, quero, também, trazer à baila outros problemas que atingem as crianças que simplesmente saltam da sua infância para uma triste realidade de uma vida sexual adulta antes de se tornarem adultas, bem como as pessoas que, embora adultas, se entregam irrefletidamente ao comportamento pornô.
Refiro-me aos problemas do conflito do ‘eu’, isto é, da autocompreensão humana, do fundamento da personalidade. Afinal, o corpo é a representação máxima de nossa identidade e ninguém entrega o seu corpo a outrem sem entregar a sua persona, os seus sentimentos, as suas expectativas, os seus sonhos. O sexo não se resume ao coito. Logo, ao se banalizar o sexo se banaliza a própria existência.
Em suas múltiplas formas, a cultura pornô transforma os seres humanos em meros objetos sexuais que são constantemente manipulados e manobrados no interior de uma sociedade de massa totalmente hedonista, isto é, que tem sua concepção de felicidade na busca do prazer e tranquilidade para o corpo. Os homens, nesse contexto, só são homens se forem raparigueiros, as mulheres são cachorras, são raparigas (no pior sentido da palavra) e as relações sexuais são apenas prazer sem consequências. Não há compromisso, nem qualquer sinal de responsabilidade. Assim, somos obrigados a pensar, também, sobre homens e mulheres que embora sejam adultos são irresponsáveis com o seu próprio corpo, com o seu próprio futuro e com o futuro das crianças que ocasionalmente são geradas pela sua simples busca de prazer.
É necessário que o pornô volte aos limites do seu espaço na intimidade das pessoas e desocupe o centro da vida pública. As suas expressões como pornografia e pornofonia, por exemplo, devem recuar para um espaço marginal identificado apenas e tão somente com os que se interessam por atividades e práticas dessa natureza. Não é admissível que a nossa população esteja compulsoriamente sujeita aos excessos da comunicação pornô, tornando-se refém dos prazeres individuais que negligenciam as responsabilidades sociais. É hora de uma reflexão justa e moderada sobre o assunto, sem acusações sarcásticas e sem defesas de interesses particulares ou de pequenos grupos que querem determinar o comportamento social.


3 comentários:

Unknown disse...

Meu amigo Josemar. Parabéns pela lucidez no trato dessa temática. Artigo profundo na análise e inteligente na construção de um reflexão que precisa ser urgente na sociedade. Vivemos uma autofagia psíquica e social.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Parabéns pelo texto Josemar, ao mesmo tempo que admiro sua análise, fico triste com essa realidade, o mundo esta doente e só Deus pode curar, oremos para que ele possa ter piedade de todos nós. Abraço!